quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Irmão cuidadoso.

Convém lembrar que todas as histórias são verdadeiras, vividas por minha família ou conhecidos dela, e os detalhes são descritos com fidelidade.

Minha mãe e tios foram criados num bairro  rural da cidade onde nasci e moro até hoje. Nos idos dos anos 45, meu tio mais velho estava na hora do alistamento militar, era indispensável visto que acabara a grande guerra recentemente, então ele teria obrigatoriamente de se apresentar.
Isto o tirou do ninho onde vivia uma vida pacata, inocente, sem nenhum olhar além dos limites do sítio . Quando terminou seu tempo de serviço militar, era outro... Havia conhecido o mundo lá fora, novas experiências, novas amizades, costumes; e o sítio ficou pequeno!
Veio morar e trabalhar na cidade, trazendo consigo aulguns dos 7 irmãos. Nunca havia se apercebido deles, e, morando longe dos pais, sentia na obrigação de cuidar e promovê-los.
A primeira coisa que lhe chamou a atenção, foi o tamanho dos pés.
- Demasiado grande, pensou. Considerando que andavam descalços o tempo todo, não havia um sapato bom para usar, achou que a falta deles contribuía para um crescimento desenfreado .
- Acho que posso corrigir isto! - Havia ouvido na escola um termo novo, que se chamava "ortopedia",
e "Eureca", estava aí a solução !
Descobriu o número dos sapatos que cabia em cada irmão, pois até aquele dia não tinham conhecimento disto; o pai media os pés ,dando nós num barbante com a distância do tamanho dos pés de cada um, começando pelo mais velho, e comprava os sapatos na cidade com aquelas medidas.
Conhecido os números, comprou uma numeração menor para cada um! - Achando que poderia impedir o crescimento, ou quem sabe reduzi-los. Não contente com a previsão do resultado, mandou que jamais tirassem os sapatos, nem para dormir.
Quando ouvi esta história de um dos tios que passara pelo episódio, perguntei se doía muito, quanto tempo eles aguentaram a situação, coisas do gênero. Então ele me respondeu:
- Olha filha, tínhamos de obedece- lo, pois ele era o mais velho, só que quando eu dormia, sonhava que tinha asas, e quando eu levantava da cama pela manhã , eu voava, não precisava andar!
Caímos na risada, e ele dizendo com olhar de reprovação :
 - Não é de rir, é de chorar!!!!
Olhei pros seus pés,e percebi que pelo bom Deus o intento cuidadoso do irmão mais velho, não durou muito tempo, ele calça hoje sapatos 42!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Me dê sua mão.

Nossa mente é surpreendente!
Quando pensamos em algo que aconteceu lá atrás, bem lá atrás... um filme desenrola em uma fração de segundo: toda a história, as reações, sentimentos; todas as causas e efeitos que aquele momento originou.
Sempre disse que uma vida sem histórias não é vida; as mais bonitas são aquelas que ao contar, o pulso acelera, nossos olhos fitam o nada, os cheiros e sabores acontecem na lembrança e a saudade aflora!
Quando a lembrança é "daquele" aperto de mão, muitos anos atrás, vem o entendimento de toda uma vida!
- Essa é a mão que procurava! 
Aconchegante... macia... quente... protetora... carinhosa...
Um silêncio ensurdecedor dentro do carro dizia mil palavras, juramentos, promessas. Não houve troca de olhar, pois podia quebrar o encantamento! Andamos muitos minutos calados, sentindo um turbilhão de emoções... Nada que falássemos iria retratar o que estava acontecendo, não havia palavras...
Não precisava... só segurar aquela mão com firmeza e carinho bastava! Víamos com o canto dos olhos a presença de Deus no meio de nós. Algo surreal estava acontecendo... pra toda vida!
Era mais que um aperto de mão, minha mente reconhecia: - Faz uns 50 anos que conheço está mão!
Hoje entendo que naquele momento, meu coração profetizou quanto tempo eu iria tê-la!
Este referencial de emoção e certeza que causou em mim naquele momento é que me abastece em todas as circunstâncias, o qual eu preciso para me dar energia e ânimo para continuar.
Estas lembranças existem para poder dar continuidade na vida. O começo de nossa história foi um silencioso e intenso aperto de mão.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Como se aprende a dirigir.


Quando menina, minha vida era comparar o meu pai com o pai das minhas amigas. Aquela história que "o do vizinho sempre é melhor".
Não fui uma filha que recebeu abraços, carinho, elogios; a impressão que tinha, era que estes sentimentos estavam atras da porta me espreitando, querendo se achegar, mas por algum motivo não podiam.
O olhar do meu pai para mim, parecia um olhar de arrependimento, tristeza, dó, e me incomodava, pois sem saber por que, sentia culpada de querer, um beijo, um abraço, sentar no colo, coisas que via acontecer com minhas amigas e não comigo. Hoje, sei que ele, sem ter consciência disto, se punia por dentro por não conseguir romper as barreiras criadas por sucessivas gerações de pobreza, ignorância, desamor, brigas, gritos, essas coisas que vem de família para matar no ninho qualquer iniciativa de amor dentro dela.
Então quando aparecia uma pequena chance de me encostar nele, sentir ele como pai, eu aproveitava e me desdobrava para que aquilo durasse o máximo.
Ele bebia sempre, mas na época eu não percebia,e se alguém falasse algo sobre isso, o mundo desabava em nossa cabeça, e de quem estivesse por perto.
Numa tarde, quando eu tinha 13 anos, convidou para que eu fosse ao sítio com ele de caminhão para trazer o algodão colhido para a indústria algodoeira da cidade. Aquilo foi o máximo!!!
Ele tinha solicitado minha companhia!
Lá, nas conversas com os trabalhadores, eu o vi sorrir como nunca, era muito difícil ver seu riso, fiquei muito feliz, achando que aquele momento iria dar início a uma nova vida minha com ele!
Pensei....puxa! Que bom! O achei lindo!
Foi então, sob o efeito da bebida junto com o pessoal, e a impulsividade dele - este é um dos traços que há em mim - que ele resolveu me ensinar dirigir.
Era um caminhão Ford, carregado com umas 5 toneladas de algodão, numa estrada de terra, que eu aprendi a dirigir!
- Senta aí no volante que você vai levar o caminhão pra mim, disse ele, com a fala meio grossa pelo efeito de uns bons copos de pinga!
Era uma oportunidade de fazê-lo feliz que eu não podia desperdiçar, e sem nunca ter pegado num
volante, ouvi atentamente as instruções que ele me passava, e sem nenhum medo, trouxe o caminhão até a cidade!
Era o meu pai me ensinando o que ele mais gostava de fazer - dirigir!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Uma doce amiga!

Eu era uma moça, e ela uma menina...
Eu estava apaixonada, e ela era apaixonada...
Nos conhecemos num mesmo ponto de nossos caminhos, ambas sem chão, procurando um pra chamar de seu.
Eu precisava acertar, ela precisava que acertassem em sua vida.
Eu precisava de uma chance, um caminho para seguir, e ela estava nele...
Ela ainda não sabia que escolhas teria, eu sabia que teria de escolher amá-la. Eu escolhi... te amar Nani.
Deus abriu meus caminhos de experiências dos sentimentos, colocando você  nele. É uma estrada onde damos o primeiro passo, pra nunca mais parar a caminhada. Estando juntas ou não nela.
Sei que te ensinei ver alguma coisa neste caminhar, mas quem mais aprendeu fui eu. Querendo te amar, aprendi a amar.
Aquela flor do jardim que você me deu há 34 anos atrás, nunca esqueci!
Obrigado por você estar no meu caminho.
Obrigada pela flor!

Como nasce um político de verdade!

Na década de 60, meu tio mais velho, que ainda era moço, resolveu se ingressar na política por pura convicção de que ele seria muito útil em sua cidade de não mais de 1.500 habitantes.
Tudo ainda era muito puro... O ar com cheiro de orvalho, a terra roxa e fofa, a água tirada da mina, os alimentos colhidos na hora do quintal, o leite que eu mamava na teta da vaca, ou as vezes minha avó colocava pó de chocolate no fundo de uma caneca de lata, esguichava o leite de longe para ficar com espuma... primórdios do milk-shake!!!
Tudo era muito bom...
As pessoas se curtiam, compartilhavam, se comentavam, no verdadeiro sentido da palavra. Eu lembro muito bem ainda os efeitos disto que hoje tornou-se puramente virtual. Nos transformamos numa multidão de pessoas fingidas, com milhões de amigos, e solitários egoistas dentro de um quarto.
Bem, voltando para a cidadezinha do meu tio aspirante a vereador que foi vencedor naquelas eleições, seu primeiro trabalho enquanto vereador foi visitar um velório de uma familia a qual ele havia beneficiado com um caixão doado pela Prefeitura Municipal. Queria ver se de fato se o material do caixão doado era bom.
Meu tio estava sentado numa cadeira na cabeceira do caixão com as pernas cruzadas. Enquanto a viúva acariciava o rosto do marido falecido, ele tocou disfarçadamente o caixão por baixo na altura da cabeça do defunto com a ponta dos pés, de modo que pudesse checar se o assoalho do caixão era de madeira ou tecido. Fazendo isso, a cabeça do defunto se mexeu parecendo que ele dizia um elouquente "sim".
Muitas pessoas estavam apinhadas numa minúscula sala da casa de pau a pique, e vendo o acontecido que o defunto dizia sim, quiseram todos sair correndo ao mesmo tempo, levando consigo parte da parede, deixando a viúva e o defunto com meu tio debaixo do teto que se apoiou no caixao.
Até nos dias de hoje ninguém sabe o que de fato aconteceu... Mas falam de um marido que morreu, e depois de morto respondeu a pergunta da esposa se ele era fiel à ela, com um elouquente sim.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Como se dá o início da história de uma família?

Como se dá  o início da história de uma família?
Onde podemos localizar este começo?  Na área cultural, patrimonial, com quem, onde?
Muitas são as indagações, como se fôssemos uma criança na idade "do porquê do porque".
Árvore genealógica é outro assunto muito complicado nos dias de hoje, no meu tempo ela possuía um caule, e ficava bem frondosa; agora temos de colocá-la como se fosse uma hera agarrada a uma cerca ou muro para sustentar os diversos ramos que irão se agregar.
A minha possue caule, já a dos meus filhos...
Então, comecarei meus contos com o primeiro dia do casamento dos meus pais.
Minha mãe, então com dezesseis anos, mais parecia uma gatinha assustada sem casa do que uma noiva e futura esposa. Imagino como estava o coração dela perante a nova família. Uma italianada sem sensibilidade, arrogante, e ávidos em corrigir quem quer que entrasse nela. A questão não era receber a mais nova integrante, e sim, como mostrar quem era quem!
Estou tentando lutar com meus genes desde que nasci; às vezes, acho que são eles que vão me matar!
É neste momento que se mata todo e qualquer princípio de bom relacionamento numa família, o da minha mãe foi crucificado!
Ela estava perdidamente apaixonada pelo meu pai; carente; insegura; pura; cheia de amor e vida para dar. Queria acima de tudo acertar. Como de costume naquela epoca não havia lua de mel, o dia seguinte era dia normal; trabalho, trabalho e mais trabalho. Era dia do meu pai tratar dos porcos, então ela mais do que solícita, se aprontou para ir ajudá-lo.
Ela media quase 1.52 m e pesava uns 50kg; uma tia minha de uns 1.80m e 90 kg abriu os braços na soleira da porta quando minha mãe saía, impedindo que ela passasse e disse: - Nesta casa, muié num anda atrais de homem! Tem um tanque cheio de roupa para você lavar!
Imagino a cauterização que houve nas iniciativas, ilusões, demonstração de sentimentos, e felicidade   dentro de minha mãe; pois ela iria morar na mesma casa até a morte do meu pai...
É assim que começou os pilares que iriam erguer meus sentimentos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A família.

Credo!...... É muito excitante essa coisa de escrever coisas, as quais você gosta de falar, e achar alguém, em algum lugar do planeta que interesse ou perca tempo para ler!
Hoje aos 56 anos, posso dizer que a família, é a instituição mais intrigante, poderosa, indispensável à sobrevivência do ser humano. Fico impressionada com a força e o poder que ela gera nas pessoas, e mais impressionada ainda com o estrago que ela causa com sua falta! Por isso resolvi falar da minha.
Comum como qualquer outra, mas com um toque muito grande de ingenuidade, que caracterizou o que somos, e como conseguimos ser sobreviventes numa época de transição, onde tudo mudou..., costumes, leis, conceitos, estilos de vida... tudo..., tudo mudou enquanto eu crescia e abria o olhos para um mundo que nada era regra.
Creio ardentemente que Minhas histórias irão te ajudar muito a repensar em relacionamentos futuros, mudar o olhar para pessoas e circunstâncias.
 Até la.