quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Brincar é preciso!

Na época dos meus pais, brincar era uma arte!
Todo esforço que a família dispendia era para a sobrevivência e pagar a terra comprada com muita coragem, e dos frutos que ela dava, tirando seu pagamento, comia-se  do que sobrava, e sobrava muito pouco...
Então para uma criança brincar, ela teria de construir seu brinquedo dos recursos que havia ao redor da pequena casa.
Hoje entendo porque nossos pais foram tão determinados no quesito sobrevivência! Não tiveram escolha... pois morrer não é fácil.
Brincar é o que toda criança faz, e naquele tempo não era diferente; qualquer objeto, caco de louça, móvel quebrado, bacia furada... qualquer coisa se transformava em brinquedo.
A casa foi feita ao lado do pasto onde os animais da lida  e o gado de leite ficavam, e recordo minha avó jogando pela janela da cozinha tudo o que não prestava: canecas quebradas, panelas amassadas, penicos furados, e muitos outros indesejados pertences; transformando aquele lugar num grande laboratório para os ávidos caçadores de coisas que pudesse vir a se tornar um brinquedo.
Ali se encontrava a nossa " fantástica loja de brinquedos"!
Naquele tempo usava-se penico, pois não tinha banheiro dentro das casas, e para o conforto noturno, o tal objeto ficava debaixo da cama, e sempre esquecido cheio.  Furavam com facilidade, pois eram feito de metal e oxidavam. Então estes pastos ao redor das casas tinham uma imensidão deles.
Era fácil criar um exército de soldados, pois eramos em muitos irmãos e primos.
-  Marcha soldado, cabeça de papel, senão marchar direito vai preso pro quartel! - cantavam em fileira do maior pro menor.
Cada um tinha um penico na cabeça, imitando o capacete dos combatentes de guerra visto por eles nos parcos pedaços de jornal que chegava até o sítio.
Sol quente, cabeça suada e penico não combina muito!E um dos meus tios, ficou entalado!
Apertou deveras o penico na cabeça suada, e não tinha cristão capaz de livrá-lo daquilo que tinha sido sua alegre brincadeira.
Chama a mãe, chama o tio, chama o vizinho, e nada... A noite chegava, e o valente soldado ainda de chapéu na cabeça que não era de papel chorava com medo de não ir pro quartel preso, mas sim de ficar preso.
- Vamos cerrar o penico no meio com o trançador! - gritou um dos primos, causando pânico na vítima, e ira na mãe.
Mas um heróico tio, agraciado pela força de Sansão, resolveu o caso que já adentrava a noite. E isto num sítio não é bom presságio, a noite tudo piora muito...
Sem que a mãe percebesse, colocou a cabeça do moleque entre as pernas, e com toda a força  puxou o penico, tirando-o com uma larga tira de couro e os cabelos que estavam nela.
A brincadeira acabou, mas já era noitinha mesmo, hora de todos tomarem banho e jantar. Não costumavam dar muita atenção para as mazelas da criançada.
Ouvindo esta história, não pude deixar de rir, e fazer um paralelo dos tempos.
Meus pais  também tiveram seu "menino maluquinho" da sua época, só que na versão pobreza!

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