sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Como se aprende a dirigir.


Quando menina, minha vida era comparar o meu pai com o pai das minhas amigas. Aquela história que "o do vizinho sempre é melhor".
Não fui uma filha que recebeu abraços, carinho, elogios; a impressão que tinha, era que estes sentimentos estavam atras da porta me espreitando, querendo se achegar, mas por algum motivo não podiam.
O olhar do meu pai para mim, parecia um olhar de arrependimento, tristeza, dó, e me incomodava, pois sem saber por que, sentia culpada de querer, um beijo, um abraço, sentar no colo, coisas que via acontecer com minhas amigas e não comigo. Hoje, sei que ele, sem ter consciência disto, se punia por dentro por não conseguir romper as barreiras criadas por sucessivas gerações de pobreza, ignorância, desamor, brigas, gritos, essas coisas que vem de família para matar no ninho qualquer iniciativa de amor dentro dela.
Então quando aparecia uma pequena chance de me encostar nele, sentir ele como pai, eu aproveitava e me desdobrava para que aquilo durasse o máximo.
Ele bebia sempre, mas na época eu não percebia,e se alguém falasse algo sobre isso, o mundo desabava em nossa cabeça, e de quem estivesse por perto.
Numa tarde, quando eu tinha 13 anos, convidou para que eu fosse ao sítio com ele de caminhão para trazer o algodão colhido para a indústria algodoeira da cidade. Aquilo foi o máximo!!!
Ele tinha solicitado minha companhia!
Lá, nas conversas com os trabalhadores, eu o vi sorrir como nunca, era muito difícil ver seu riso, fiquei muito feliz, achando que aquele momento iria dar início a uma nova vida minha com ele!
Pensei....puxa! Que bom! O achei lindo!
Foi então, sob o efeito da bebida junto com o pessoal, e a impulsividade dele - este é um dos traços que há em mim - que ele resolveu me ensinar dirigir.
Era um caminhão Ford, carregado com umas 5 toneladas de algodão, numa estrada de terra, que eu aprendi a dirigir!
- Senta aí no volante que você vai levar o caminhão pra mim, disse ele, com a fala meio grossa pelo efeito de uns bons copos de pinga!
Era uma oportunidade de fazê-lo feliz que eu não podia desperdiçar, e sem nunca ter pegado num
volante, ouvi atentamente as instruções que ele me passava, e sem nenhum medo, trouxe o caminhão até a cidade!
Era o meu pai me ensinando o que ele mais gostava de fazer - dirigir!

Um comentário:

  1. Isso me fez lembrar, das vezes que ele voltava das longas viagens que fazia , sempre quando chegava , me trazia uma preciosidade que nao tinha em Bandeirantes : Torrone!!!!! Uma vez , ansiosa por sua volta, estava descendo da casa da tia Orizia, e qdo vi se caminhão estacionado na frente de casa, corri tanto que tropecei e cai. Cheguei em casa aos prantos , toda ralada, mas mesmo assim , tentava sorrir para que ele somente me abrasasse e me contasse as histórias da sua viagem..... memórias da irmã caçula.... Bjuuu

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